domingo, 6 de outubro de 2013

Peregrinos em Roma

Os mais antigos lembram: costumava-se dizer que quando algo não estava completo, era como ir a Roma e não ver o Papa. Pois ainda não foi desta vez. A Fátima já estava meio reticente com a ideia de irmos até a Piazza San Pietro para assistirmos o Angelus e vermos Francisco na janela (ela falava nisso desde que decidimos a viagem). Ontem, com o jantar com o Pe. Ricardo a decisão foi tomada: não vamos. Ele nos falou que apenas uma vez tentou assistir ao Angelus, e mesmo tendo chegado relativamente cedo, não conseguiu mais lugar na praça, mas apenas na Via della Conciliazione, e mesmo assim nem na primeira quadra. Para conseguir pegar um lugar razoável na praça, teríamos que chegar antes das sete, e ficar esperando
de pé (na chuva???) até o meio dia. Passamos.

A escada de saída das catacumbas
Em assim sendo, nada restou a não ser antecipar o que seria a segunda parte da programação de domingo, ou seja, uma visita às catacumbas. O Google Maps nos ensinou que se pegássemos o ônibus 130F na estação Lepanto, com mais uma caminhadinha no final, em cerca de 50 minutos estaríamos lá. Descendo no ponto Navigatori, iniciamos nossa caminhada (mais ou menos 1 km) até o nosso alvo, as catacumbas de São Sebastião. No trajeto passamos pelas catacumbas de São Calisto - era a outra sugestão da Sílvia, uma ex aluna da Fátima que morou muito tempo em Roma. Não tivemos dúvida - é aqui que entramos. Ingressos comprados, esperamos 20 minutos até o horário da visita, que só pode ser feita "guiada". Vendo-se lá embaixo o labirinto que são os inúmeros túneis, compreende-se o porque.
Onze horas em ponto começam a chamar os grupos, de acordo com a língua falada na visita. Anteriormente havíamos pensado em fazer o passeio em inglês, mas quando vimos que a visita em italiano era para um pequeno grupo de apenas 8 pessoas, mudamos de ideia. A Fátima disse que o que ela não entendesse eu explicava. Aqui que entra a história de peregrinos em Roma. Irmão Giuseppe, nosso guia, disse que depois que entramos nas catacumbas com ele, não interessa mais porque estamos ali visitando, não interessa mais o credo. Lá embaixo somos todos peregrinos. Muito bem, peregrinemos. Me desculpem mais uma vez, mas o negócio é impressionante. Descemos até um nível intermediário - 11 metros abaixo do solo (existem catacumbas até 22 metros de profundidade, mas não são abertas ao público), ambiente bem fresco, sem umidade, sem cheiro de mofo. Na catacumba de São Calisto foram enterrados mais de 500 mil pessoas, das quais uns 40% de crianças - a mortalidade infantil era muito alta naquela época. Entre os enterrados, mais de 15 Papas. De repente, Irmão Giuseppe fala várias vezes que lá esteve também o Papa Gaio. Era Papa Gaio pra lá, Papa Gaio pra cá, que nem sei mais se não era o papagaio de estimação de alguém (não seria o Zé Carioca?) que esteve por lá. Tivemos que nos conter para não rirmos.
Terminada a visita, fomos pegar o ônibus da volta. Turista que nunca pegou transporte coletivo no sentido errado que atire a primeira pedra. Quando percebi que estávamos indo para o lado errado, perguntei para o motorista que me orientou a descer aqui e esperar pelo ônibus certo ali. Depois de uns 20 minutos de espera, veio o 118 na direção certa. Era o mesmo ônibus, já na volta para o centro. Podíamos ter ficado dentro sentadinhos, e não de pé no ponto. Coisa de neófitos.
Termi di Caracalla - a foto não faz justiça ao tamanho!
Muito bem. A sequencia era uma parada nas Termas de Caracalla. Quase perdemos o ponto.  Fátima viu umas ruínas enormes e com firmeza falou: é aqui, vamos descer. Meio descrente, desci. Era ali mesmo. Ponto para ela. Me ajudem a encontrar novos adjetivos, porque dizer que as termas são impressionantes, sensacionais, espetaculares, já não serve. Fica-se imaginando o povo Romano aproveitando toda aquela estrutura enorme, finamente decorada. São salas e mais salas, paredes altíssimas, restos de pavimento ainda originais, fragmentos dos mosaicos da decoração das paredes! Esses romanos eram f. mesmo! Só para dar uma ideia, o prédio principal mede 412 x 393 metros. Só de mármore para colunas e revestimentos, foram usados 6.300 m³ (por volta de 200.000 m² equivalentes)! Incrível.
Um dos mosaicos que decoravam as termas
O Palatino, visto do Circo Massimo, a caminha da Bocca

Bom, chega de tergiversar. Vamos para frente. Saímos de lá e fomos caminhando até a Igreja de Santa Maria in Cosmedin, onde está a famosa Bocca della Verità. Fila para entrar. Dá para ver a Bocca pela grade. Óbvio, deixamos de lado - apenas uma foto da dita e pronto.
A feirinha na Via dei Fori Imperiali
Próximo destino, a igreja de San Pietro in Vincoli, onde está Moisés de Michelangelo. Já era hora do almoço e no caminho paramos num restaurante simpático, onde pedimos uma salada mista e um gnocchi ao pesto. Dos melhores gnocchi's que já provamos nessa nossa ainda curta existência. De lá, para chegarmos ao Moisés, vai-se pela Via dei Fori Imperiali. Agradável surpresa. A rua aos Domingos fica fechada para carros. Além da tranquilidade, tinha também uma pequena feira de produtores artesanais (e orgânicos). Mais uma brilhante ideia da Fátima: compramos un etto (100 g) de um delicioso queijo chamado Caciocavallo, e uma mini garrafa de olio di oliva. Estávamos com meio jantar pronto.
A corrente em que, diz a lenda, São Pedro foi aprisionado
Voltemos à programação. Saindo da feirinha, em mais uns poucos minutos chegamos em frente de Moisés. Meio óbvio, mas continua de cair o queixo. Ainda mais que uma boa alma resolveu desapegar de um euro e colocou a moedinha mágica que acende as luzes sobre a escultura. Mas nossa tarde ainda não estava completa. Fomos agora até a igreja de Santa Maria Maggiore. Chega de adjetivos. Cheguem você mesmos às conclusões que quiserem, olhando as fotos...
O teto de Santa Maria Maggiore
O Baldaquino da mesma!
Saindo da igreja, o sorvetinho de limão da tarde, pequena caminhada até a Estação Termini, e metro para o hotel. Pequeno período de repouso e saímos atrás de uma panificadora para completar os ingredientes do nosso jantar. Panificadoras fechadas no Domingo à tarde. Compramos umas torradinhas integrais, facas de plástico e vamos para o hotel degustar as nossas especiarias. Jantar bom, bonito e barato. Nada melhor para fechar a nossa estadia em Roma. Amanhã pela manhã pegamos a estrada rumo a Milão.

5 comentários:

Clau disse...

Muito legal acompanhar a viagem de vocês!!! Me deu vontade de voltar a Itália! Principalmente qdo vcs comentaram do piquenique no hotel com talheres de plástico..... Comprar queijo, vinho, azeite, pãezinhos na rua, acho isso delicioso!

Pena a multidão, mas faz parte... Há quase 10 anos eu coloquei a mão da boca da verdade, hehehehe ah... Tb joguei a moedinha na Fontana! Quero voltar!!!

Boa viagem a Milão, volto para ler!

Um abraço!

Ana.

Ivo disse...

Oi Ana

Que bom que está gostando. A ideia é essa: recordar e querer voltar para quem já esteve, dar vontade de vir para quem nunca veio!

Beijos

Ivo e Fátima

Ana Balbinot disse...

Finalmente consegui entrar no blog, hahaha! Como sempre, adorei as peripécias dos dois! Fiquei com saudades de Roma e já resolvi que o filme da noite será À Roma com Amor.
Eu amei as Termas de Caracala e também as catacumbas, e peguei os ônibus certos para os lados certos! Ler o blog é como viajar de novo,uma delícia!
Beijos

Panda Lemon disse...

Que belos peregrinos vcs são, estão lindos mesmo nas fotos! E realmente, a grandiosidade da história é uma coisa de tirar o fôlego! Aguardando os relatos di Milano!

Baci, miei carissimi =)

Ivo disse...

Querida Ana

Que bom te ter de volta! Rápdio comentário porque a internet aqui em Orvieto é muito instável...

Pandinha linda

Esta viagem está mais para peregrinação mesmo, de tanta igreja que estamos vendo!

Beijos em ambas