quarta-feira, 1 de outubro de 2008

De Veneza a Verona, passando por Tonadico e San Nazario

Como falei ontem, tivemos que refazer os planos para hoje. Uma de nossas intenções originais sempre foi um passeio em Murano. Acho que ainda não falei, mas o hotel o oferecia “de graça” (com o preço que nos cobraram da diária, podiam nos “dar” muito mais do que um passeio a Murano, ma, va bene cosi). Ontem antes da descoberta do erro, tínhamos feito a reserva para as 10 horas. Hoje assim que deu 07:30, ligamos para a recepção perguntando se poderíamos alterar. Podia – antecipamos para 09:30.


A Fátima no táxi, triste porque bateu a cabeça no teto


Nos canais de Veneza


A fábrica de vidros de Murano


O artesão trabalhando

Pontualmente o guia chegou e nos levou até o táxi que iria nos levar a Murano. Um belo passeio de barco pelos canais e pela laguna de Veneza. A visita à ilha, compreende uma passada pelas fornos onde o vidro é moldado, e, óbvio, uma llooonnngggaaa passada pela coleção de peças à venda. Mas é irresistível – acabamos comprando um prato para a nossa coleção da sala, além de um colarzinho todo colorido (claro que para a Fátima – o que você está pensando?).

O táxi da volta nos deixou na Piazza San Marco, e não no Canal Grande onde fomos apanhados. No caminho para o hotel, vimos que o Palazzo Ducale estava com gente dentro – oba – estava aberto. Vamos chegar um pouco mais tarde do que o previsto em Verona. Azar, deve valer a pena. E como valeu.

O Palazzo Ducale

O pátio de tomar sol na cadeia


Nos corredores de passagem da Ponte dos Suspiros


O trajeto logo da entrada é meio estranhos, só com uns pedaçoes de colunas espalhados por dentro d`umas salas. Vai-se então à “praça” central para em seguida entrar novamente no prédio. A visita se estende por 3 andares. Além de tudo tem-se uma boa visão de como funcionava o governo da Serenissima Republica di Venezia – a gente passa, por exemplo, pela sala do Senado, pela do Conselho dos Dez, dos Quarenta, pela do Maior Conselho, etc.. A sala do Maior Conselho é impressionantemente grande. Durante o século XVI, o Maior Conselho chegou a ser composto por mais de 2.000 membros, e todos eles se reuniam ali. Lá está também uma das maiores pinturas do mundo, o “Paraíso”, dos dois Tintoretto (pai e filho), que mede 24,65 x 7,45 metros. E olhe que o lado de 24,65 é o menor da sala, e os 7,45 não são do piso ao teto – a parte de baixo da tela está bem alta em relação ao chão.

Gostamos muito também da parte da Armeria, com armaduras, espadas e outros armamentos desde os tempos d`antanho. Mas a melhor parte ainda estava por vir. Não a mais luxuosa, não a maior, mas a melhor. Saindo da Armeria, você é encaminhado para as prisões. Como se chega nas prosões? Certo, isso mesmo – pela PONTE DOS SUSPIROS. Nós suspiramos na Ponte dos Suspiros. Outra das ocasiões sem preço desta nossa viagem.



Pelas aberturas da Ponte dos Suspiros também se enxerga a Ponte della Paglia, de onde os populares ficavam vendo a passagem dos condenados pela dos Suspiros. As celas da prisão são de fazer inveja a qualquer preso brasileiro. São grandes e até que meio arejadas. Tinha inclusive pátio interno para banho de sol!

È finita Venezia. Retornamos ao hotel, pegamos as bagagens e lá fomos nós pelas ruelas estreitas para pegarmos o vaporetto em direção à Piazzale Roma onde estávamos estacionados. GPS apontando para Tonadico, e pé na estrada. Não sei se é assim mesmo, ou se o GPS estava meio perdido, mas ele não nos levou de imediato à autoestrada – passeamos por umas estradinhas maravilhosas, bem com cara de interior. Na realidade, não fomos em autoestrada mesmo em nenhum momento – apenas umas de pista duplas, outras de pistas simples, até uma que nos levaria se assim o quiséssemos para a interessante cidade de Cornuda (nos distraímos e não conseguimos tirar a foto para provar que existe mesmo uma Cornuda na Itália...). E vejam como são as coisas – italiano é machista mesmo – nunca encontramos uma indicação sequer para Cornudo. Já era hora do almoço e estávamos à procura de um lugar simpático para comermos. E êle veio em Signoressa di Trevignano, na Tratoria Sant`Elena, lugar que parece frequentado apenas por nativos. Muito bom.


Na estrada

À medida que avançávamos para o norte, a Fátima já foi notando as diferenças, não só na paisagem, mas também no estilo das casas, que ia gradualmente ficando mais “alpino”. Quanto mais subíamos, mais linda ia ficando a paisagem. O lugar doido de bonito. O problema é que não víamos nenhuma placa indicando Tonadico. Aí apareceu a primeira delas: Fiera di Primiero. Para os não iniciados nos meandros da Família Zagonel, Primiero, assim com Imer, faz parte de nosso passado. Meu bisavô era de Tonadico, mas todas elas são pequenas comunidades vizinhas, às vezes separadas apenas por um pequeno riacho. Enfim lá chegamos. Estacionamos o carro num estacionamento perto da estrada – para variar lá também tem zona proibida para carros de não residentes... Começamos a caminhar pela cidadezinha, e a primeira pessoa que encontramos e com quem tentei entabular uma conversa, foi um velinho de seus oitenta e bastante, que além de falar num italiano que era mais dialeto do Trentino, ainda era meio surdo (usava até aparelho...). Resultado da tentativa: zero.


A igrejinha

Um dos inúmeros Zagonéis já mortos


Já tínhamos observado bem no alto de um morro uma pequena igrejinha, e um onte de pessoas indo para lá. Opa – deve ser algo importante, pensamos – vamos nós também subir o morro. O interessante é que nessa excursão tinha um monte de brasileiros. Passamos batidos por eles (vocês sabem o nosso ritmo de caminhada como é que é) e, chegando lá em cima, a primeira surpresa – o nosso primeiro encontro com os Zagonéis de Tonadico. Infelizmente apenas com os mortos. No pequeno cemitério atrás da igrejinha do santo que não me lembro o nome, estava cheio de túmulos de vários ramos da família Zagonel. Mas não só Zagonel. Tinha túmulo de Corona, Turra, Jagher, Bettega, todos esse sobrenomes que temos em nossa família e na nossa cidade. Enquanto estávamos lá começaram a chegar as pessoas da excursão. Uma senhora do grupo subiu até o cemitério, e fui falar com ela – “o que um grupo de brasileiros está fazendo em Tonadico?” Daí ela me explicou que eles fazem parte de um movimento cristão (não me lembro o nome) com ramificações em todo o mundo, e que foi fundado em Tonadico por uma tal de Chiara. Tá bom – para nós não fez diferença.


Tonadico vista do alto do morro da Igreja

Descemos o morro e lá embaixo encontrei mais uma senhora. Era moradora do local. Também falava um italiano misturado com dialeto, difícil de entender, mas pelo menos ela conhecia um Zagonel dos vivos. Nos levou até a casa dele – chama-se Paolo Zagonel.


Nós e a família de Paolo Zagonel

A casa de Paolo Zagonel

Extremamente simpático, imediatamente nos convidou para entrarmos na casa dele. Uma ocasião êle já havia se correspondido com a Rosa Maria (do Luiz Fernando), e inclusive possuia um exemplar daquela brochura em que temos toda a nossa família. Gostou de saber que eu fui um dos autores do compêndio. Infelizmente, segundo ele, não devemos ser parentes – até onde ele pesquisou, somos de ramos diferentes. Não faz mal, a emoção foi a mesma. Vocês da família lembram daquele vez que fomos até a Colônia Santa Cecília para assistir a um grupo de italianos que tinha vindo para cá para cantar? Uma das pessoas do coro é irmã dele.

Enquanto conversávamos, a mulher dele nos ofereceu um café, que aceitamos. E foram chegando os filhos – um homem e uma moça. Por sinal, eles (o nono e a nona) estavam com a netinha. Tinham mais cedo ido para os bosques em torno de Tonadico para catar cogumelos. Estavam com uma bacia cheia de funghi. Um aroma excepcional.

A casa dele tem 3 pisos (e mais o porão). Ele mora no piso superior. O intermediário (onde moravam os seu pais) estava sendo reformado para que o filho passasse a morar lá. No piso térreo por assim dizer, mora a filha. No porão, onde hoje ele tem um depósito e a caldeira de aquecimento, na época da juventude de seus pais havia um estábulo onde chegavam a abrigar até 12 vacas.

Tonadico

Hora de irmos embora. Êle fez questão de nos acompanhar até o carro. No caminho, cruzamos com um outro senhor Zagonel, que estava ali só de passagem – mora na França. Já era mais de seis e meia quando pegamos a estrada de novo agora em direção a Verona.

Mas isso não é tudo. A estrada para Verona é diferente do trajeto de Veneza a Tonadico. Pois não é que, logo depois de sairmos do Trentino Alto Adige e entrarmos no Veneto, dou de cara com uma placa dizendo “San Nazario”? Para os que não conhecem as nossas variações familiares, San Nazario foi o local de onde veio o meu bisavô por parte da minha mãe, e que nos dá a cidadania italiana. Não tive dúvidas – que se lixe chegarmos mais cedo em Verona – entrei na localidade. Anda daqui, olha pra lá, acabamos parando na frente da delegacia de polícia, que fica num beco sem saída. Descemos, e achamos um bar aberto, depois de estacionarmos na frente da igreja.


San Nazario

Entramos no bar mais para usar o banheiro do que para qualquer outra coisa. Pedimos uma cocas, e fui bater um papo com os aposentados que estavam lá jogando conversa fora. Não sabiam de Redeschi, mas disseram que numa outra vila logo acima era cheio de Moro. Um deles ficou entusiamado. Disse que tínhamos que conversar com o Senhor ??? (que m – não anotei na hora e agora não me lembro do nome do sujeito), antigo funcionário da prefeitura, que conhecia todas as pessoas, que fazia as pesquisas de nomes nos arquivos, etc.. Não era para irmos embora sem falarmos com o Senhor ???, ele nos levaria até a casa dele. Dito e feito – pegamos o carro, o velinho entrou, e fomos até a casa do Senhor ???. Para variar um pouco, muito simpático. Nos acolheu (já era mais de sete da noite), a filha veio nos oferecer café, a mulher nos beijou e até brincou com a Fátima. Incrível – o Senhor ??? lembrava-se de ter visto registros de Moro Redeschi. Nos disse que frequentemente chega gente lá querendo informações sobre as famílias. Segundo ele, cada vez que chega um pedido de levantamento na paróquia, o páraco pede para que ele faça os faça. Mas isso não é tudo – no ano passado ele passou dois dias em Curitiba, durante uma viagem dele ao Brasil. Nos mostrou inclusive fotos da viagem – ele no Museu do Olho, no Parque Bariguí, em inúmeros locais turísticos de Curitiba, inclusive na Torre da Telepar!

Foram mais momentos que não tem preço, tanto em Tonadico como em San Nazario. No final de tudo, ainda consegui chegar inteiro em Verona.

4 comentários:

Ana Balbinot disse...

Não deixe de contar tudo amanhã, please. Estou viciadinha no blog de vocês, o Luiz disse que eu paerço aquelas velhinhas que não perdem a novela, sabe como?
Beijos e até amanhã

tete disse...

Estou curiosa para saber como foi a passada por Tonadico, tendo contato com os Zagonéis mortos e vivos!!!

tete disse...

Depois de uma viagem desta, acho que não vão ter interesse no nosso humilde Reveillon!!!!

Ana Balbinot disse...

Que emocionante! Essa passagem deve ter sido um verdadeirto must...
Beijinhos e aguardamos ansiosamente os relatos da Fátima
Ana e Gafa